Como havia adiantado no nosso
último post, hoje falaremos sobre as cervejas mais populares, as que
encontramos em qualquer supermercado, bar ou restaurante, que podemos chamá-las
de cervejas de massa, comerciais ou mainstreams.
Essas cervejas, comumente, se
intitulam cervejas Pilsen ou “Tipo Pilsen”, deve ser uma analogia ‘Tipo Net’,
pois há grandes diferenças entre essas cervejas e as Pilsens. Antes de começar
a explicar a diferença entre os estilos, deixo claro que o intuito do Post não é
denegrir e nem criticar as cervejas comerciais, mas sim desmistificar o
conceito sobre o estilo Pilsen e instruir o leitor sobre o que ele realmente
deseja consumir.
Como surgiu a Pilsen?
A cerveja Pilsen (também chamada
de Pilz ou Pilsner) teve sua origem no século XIX, na região da Boêmia (hoje
República Checa) na cidade de... Pilsen (Óóóóóhhh...). Ela foi criada por um
cervejeiro Bávaro, Josef Groll. Josef havia aprendido com os ingleses a maltear
cevada com carvão (facilmente controlável) e não lenha (que acabava por torrar
os grãos e deixando qualquer cerveja escura), ele aprimorou a técnica e
desenvolveu uma forma de maltear a cevada que proporcionava uma cerveja ainda
mais clara e dourada. Além disso, ele se apropriou de uma amostra de levedura
Bávara, contrabandeada por um monge (padre safado esse, hein?!?). Essa levedura
Lager havia sido recentemente descoberta e, por decantar facilmente, deixava a
cerveja mais translucidas que as Ales que se apresentavam turvas por conta das
leveduras suspensas, já que não havia filtragem naquela época.
Aquela cerveja límpida, dourada e
translucida, nunca antes vista, impressionava a todos também por sua beleza,
mas principalmente pelo sabor, que trazia notas de Pão vindo do malte, e a
grande estrela que era o nativo lúpulo Saaz, conferindo à leve cerveja um
amargor floral-herbal refrescante que em pouco tempo conquistou a Europa, se
tornando o estilo mais copiado do mundo. O lúpulo Saaz se tornou tão popular
que se alguém fosse flagrado tentando sair da Boêmia com uma muda, seria punido
com a morte. Até hoje a cerveja de Josef é fabricada e facilmente encontrada no
Brasil, a “Pilsner Urquell” (Tradução: Original de Pilsen) até hoje serve de
referência para o estilo.
Mas o que isso tem a ver com a minha cervejinha do sábado?
A verdade é que a cerveja mainstream pouco tem a ver com uma
Pilsen. Como dissemos antes, a Pilsen se tornou o estilo mais popular e reproduzido
do mundo, incluindo os Estados Unidos, que haviam trazido a cultura cervejeira
juntamente com os imigrantes Europeus.
Em 1870 os EUA ostentavam mais de
2700 cervejarias, a maioria era pequena e vendia cerveja apenas em sua própria
região. A variedade era ampla, fruto dos diversos grupos migratórios que
aportaram ao longo das décadas, principalmente da escola Inglesa e Alemã, e incluía
a Pilsen. O mercado de cerveja era prospero e progressista, como o país.
Toda essa prosperidade foi
interrompida quando, em 1920, foi promulgada a famigerada Prohibition (a Lei Seca americana). Toda a venda de álcool foi
proibida em solo americano, gerando ‘prosperidade’ ao mercado ilegal de bebidas,
controlada por Gângsteres. No mercado ilegal não se dava muita importância à
qualidade da bebida, os estabelecimentos eram obrigados a comprar apenas de um
fornecedor, o que dispensava a necessidade por investimentos em qualidade.
Com a revogação da Lei, após 13
anos de comercialização de produtos de qualidade questionável, havia uma
clientela diferente da época Pre-prohibition,
e foi nesse cenário que surgiram as Megacorporações cervejeiras, produzindo
grande volume a baixo custo, gerando cervejas pouco aromáticas e saborosas,
quase todas as marcas tinham (e ainda tem) praticamente o mesmo aroma, gosto,
cor, corpo e textura. Essas cervejas massificadas são, até hoje, as mais
consumidas no mundo, não são Pilsen como dizem, são mais claras e fazem um
enorme esforço para retirar qualquer elemento com sabor de dentro da bebida,
elas não possuem o amargor do lúpulo e nem o dulçor de pão. Dentro da definição
de estilos, essas cervejas foram classificadas como American Lagers. Muitas vezes (normalmente, aliás) essas cervejas
levam uma enorme proporção de adjuntos como arroz e milho, a fim de baratear a produção,
e não maturam por mais de uma semana. Uma Pilsen tem que ser Puro-malte e chega
a maturar por mais de 40 dias.
Então por que dizem que a cerveja é Pilsen?
Para as megacorporações, dizer
que esse estilo de cerveja é ‘Pilsen’ ou ‘Tipo Pilsen’, não passa de uma
estratégia comercial para remeter o consumidor a um produto mais, digamos,
nobre. Não a toa, a maior parte dos nomes das cervejas comerciais são em alemão
ou tcheco, enquanto o estilo é “American Lager”. E não acredite quando dizem
que essas cervejas são fabricadas para o gosto do brasileiro, primeiro porque
elas são fabricadas da mesma forma no mundo inteiro, além disso, por controlar
o mercado (99%) e ter um baixo custo é o paladar do consumidor acaba sendo
moldado a essa cerveja, e não o contrario.
Concluindo, não deixem de tomar a
cerveja que vocês gostam, eu mesmo consumo American Lagers, apenas provem outros
estilos para aumentar seu leque de comparação e terem certeza do que vocês
gostam ou não. O intuito desse post não é mudar o seu padrão de consumo, mas sim esclarecer
o que é aquilo que você está consumindo.