sexta-feira, 28 de junho de 2013

Vamos tomar uma Verdadeira Cerveja Pilsen?



Como havia adiantado no nosso último post, hoje falaremos sobre as cervejas mais populares, as que encontramos em qualquer supermercado, bar ou restaurante, que podemos chamá-las de cervejas de massa, comerciais ou mainstreams.

Essas cervejas, comumente, se intitulam cervejas Pilsen ou “Tipo Pilsen”, deve ser uma analogia ‘Tipo Net’, pois há grandes diferenças entre essas cervejas e as Pilsens. Antes de começar a explicar a diferença entre os estilos, deixo claro que o intuito do Post não é denegrir e nem criticar as cervejas comerciais, mas sim desmistificar o conceito sobre o estilo Pilsen e instruir o leitor sobre o que ele realmente deseja consumir.

A mais antiga e aclamada Cerveja Pilsen de Verdade


Como surgiu a Pilsen?

A cerveja Pilsen (também chamada de Pilz ou Pilsner) teve sua origem no século XIX, na região da Boêmia (hoje República Checa) na cidade de... Pilsen (Óóóóóhhh...). Ela foi criada por um cervejeiro Bávaro, Josef Groll. Josef havia aprendido com os ingleses a maltear cevada com carvão (facilmente controlável) e não lenha (que acabava por torrar os grãos e deixando qualquer cerveja escura), ele aprimorou a técnica e desenvolveu uma forma de maltear a cevada que proporcionava uma cerveja ainda mais clara e dourada. Além disso, ele se apropriou de uma amostra de levedura Bávara, contrabandeada por um monge (padre safado esse, hein?!?). Essa levedura Lager havia sido recentemente descoberta e, por decantar facilmente, deixava a cerveja mais translucidas que as Ales que se apresentavam turvas por conta das leveduras suspensas, já que não havia filtragem naquela época.

Aquela cerveja límpida, dourada e translucida, nunca antes vista, impressionava a todos também por sua beleza, mas principalmente pelo sabor, que trazia notas de Pão vindo do malte, e a grande estrela que era o nativo lúpulo Saaz, conferindo à leve cerveja um amargor floral-herbal refrescante que em pouco tempo conquistou a Europa, se tornando o estilo mais copiado do mundo. O lúpulo Saaz se tornou tão popular que se alguém fosse flagrado tentando sair da Boêmia com uma muda, seria punido com a morte. Até hoje a cerveja de Josef é fabricada e facilmente encontrada no Brasil, a “Pilsner Urquell” (Tradução: Original de Pilsen) até hoje serve de referência para o estilo.

Mas o que isso tem a ver com a minha cervejinha do sábado?

A verdade é que a cerveja mainstream pouco tem a ver com uma Pilsen. Como dissemos antes, a Pilsen se tornou o estilo mais popular e reproduzido do mundo, incluindo os Estados Unidos, que haviam trazido a cultura cervejeira juntamente com os imigrantes Europeus.

Em 1870 os EUA ostentavam mais de 2700 cervejarias, a maioria era pequena e vendia cerveja apenas em sua própria região. A variedade era ampla, fruto dos diversos grupos migratórios que aportaram ao longo das décadas, principalmente da escola Inglesa e Alemã, e incluía a Pilsen. O mercado de cerveja era prospero e progressista, como o país.

Toda essa prosperidade foi interrompida quando, em 1920, foi promulgada a famigerada Prohibition (a Lei Seca americana). Toda a venda de álcool foi proibida em solo americano, gerando ‘prosperidade’ ao mercado ilegal de bebidas, controlada por Gângsteres. No mercado ilegal não se dava muita importância à qualidade da bebida, os estabelecimentos eram obrigados a comprar apenas de um fornecedor, o que dispensava a necessidade por investimentos em qualidade.

Com a revogação da Lei, após 13 anos de comercialização de produtos de qualidade questionável, havia uma clientela diferente da época Pre-prohibition, e foi nesse cenário que surgiram as Megacorporações cervejeiras, produzindo grande volume a baixo custo, gerando cervejas pouco aromáticas e saborosas, quase todas as marcas tinham (e ainda tem) praticamente o mesmo aroma, gosto, cor, corpo e textura. Essas cervejas massificadas são, até hoje, as mais consumidas no mundo, não são Pilsen como dizem, são mais claras e fazem um enorme esforço para retirar qualquer elemento com sabor de dentro da bebida, elas não possuem o amargor do lúpulo e nem o dulçor de pão. Dentro da definição de estilos, essas cervejas foram classificadas como American Lagers. Muitas vezes (normalmente, aliás) essas cervejas levam uma enorme proporção de adjuntos como arroz e milho, a fim de baratear a produção, e não maturam por mais de uma semana. Uma Pilsen tem que ser Puro-malte e chega a maturar por mais de 40 dias.

Então por que dizem que a cerveja é Pilsen?

Para as megacorporações, dizer que esse estilo de cerveja é ‘Pilsen’ ou ‘Tipo Pilsen’, não passa de uma estratégia comercial para remeter o consumidor a um produto mais, digamos, nobre. Não a toa, a maior parte dos nomes das cervejas comerciais são em alemão ou tcheco, enquanto o estilo é “American Lager”. E não acredite quando dizem que essas cervejas são fabricadas para o gosto do brasileiro, primeiro porque elas são fabricadas da mesma forma no mundo inteiro, além disso, por controlar o mercado (99%) e ter um baixo custo é o paladar do consumidor acaba sendo moldado a essa cerveja, e não o contrario.

Concluindo, não deixem de tomar a cerveja que vocês gostam, eu mesmo consumo American Lagers, apenas provem outros estilos para aumentar seu leque de comparação e terem certeza do que vocês gostam ou não. O intuito desse post não é mudar o seu padrão de consumo, mas sim esclarecer o que é aquilo que você está consumindo.

Ein Prosit!

terça-feira, 25 de junho de 2013

Você Sabia??? - Curiosidades e Mitos sobre Cerveja



Esse é o primeiro post desse Blog, que pretende abordar assuntos relativos ao mundo da cerveja, voltado àqueles que estão iniciando seu interesse pela bebida alcoólica mais consumida no mundo de forma mais abrangente, ou àqueles que apenas desejam tirar dúvidas sobre qual cerveja escolher, quando e como.

E para começarmos, abordaremos e desmistificaremos alguns temas, conceitos e preconceitos relativos à cerveja. Esse texto terá dois objetivos, o primeiro é abrir a mente para um universo de cerveja muito mais amplo do que estamos acostumados e que às vezes, acreditem, chega a espantar o consumidor. O segundo (e principal) propiciará ao leitor conduzir debates e bate-papos na mesa do bar, restaurante, boteco, ou no churrasco do sogro com maestria e desenvoltura... Afinal, você sabia que...

Curiosidades e Mitos sobre cerveja


Você sabia que nem sempre a cerveja tem que estar gelada?

Nem sempre mesmo, e nunca estupidamente gelada. Cada cerveja tem a sua temperatura de consumo ideal, assim como vinhos. Alguns estilos de cervejas mais refrescantes, são consumidos a temperaturas ideais que podem chegar a 4°C. Outras, geralmente mais densas, complexas e/ou alcoólicas, devem ser consumidas a temperatura de adega, por volta de 13°C. Idealmente, consulte o fabricante sobre a temperatura sugerida para consumo, muitas vezes essa informação está no contra-rótulo.

Ah, e por que não devemos tomar as cervejas “estupidamente geladas” como dizem por aí? Cervejas a temperaturas muito baixas resfriam demasiadamente nossas papilas gustativas e teremos enormes dificuldades em sentir o sabor e o aroma da cerveja, ou seja, a não ser que seu objetivo seja esse, evite tomar cervejas a temperaturas extremamente baixas.

Você sabia que Chope é Cerveja?

Agora vamos entrar em um assunto que é controverso até no próprio meio cervejeiro, mas antes disso deixemos claro, e sem controvérsia, Chope é Cerveja.

“Como assim, Paulo?!? Meu pai sempre me disse que chope não é pasteurizado e cerveja sim, não é isso?” Aí vem a parte controversa: O termo Chope vem do alsaciano (antigo dialeto alemão) Schopp, que seria uma unidade de medida com cerca de 330ml, no decorrer dos anos tornou-se usual no Brasil pedir “1 chope” para o copo servido sob pressão com essa medida. “Mas e daí?” Daí que antigamente, quando tínhamos apenas cervejas nacionais de massa, o processo de pasteurização (choque térmico que elimina qualquer micro-organismo presente na cerveja) só ocorria após o produto estar engarrafado, enquanto o produto embarrilhado ia para o mercado sem pasteurização. Além do período de validade bem mais curto (cerca de uma semana) a cerveja embarrilhada tinha sensíveis diferenças no sabor para a engarrafada de mesma marca, com uma presença maior de frescor, frutado e massa de pão, originários da levedura. Com tudo isso, criou-se esse conceito de que a Cerveja é pasteurizada e o Chope não.

Maaaaaaas, como eu disse, isso ocorria antigamente. Hoje em dia, com o crescimento do mercado de cervejas artesanais no Brasil, há diversos produtores que, em busca de uma cerveja mais complexa e saborosa, não pasteurizam seus produtos engarrafados (o que exige que esses sejam mantidos sob refrigeração até o momento do consumo). Além disse, a tecnologia atual permite que a cerveja embarrilhada também possa ser pasteurizada, facilitando que cervejas importadas venham, também, embarrilhadas para o Brasil.

“Chega de enrolar, afinal, qual a diferença entre Chope e Cerveja?” Como disse, é um tema controverso até dentro do mercado cervejeiro, então passarei o meu ponto de vista: Não vejo muito sentido em dizer que uma cerveja engarrafada não pasteurizada seja chope engarrafado, e nem em dizer que uma cerveja não pasteurizada e servida sob pressão não possa ser chamada de chope. Assim, relaciono o Chope ao fato de servir a cerveja sob pressão.

Você sabia que nem toda cerveja importada é forte e ‘encorpada’?

Esse é um preconceito muito comum na sociedade. Todas as escolas cervejeiras possuem estilos que vão desde os mais leves e refrescantes, passando pelos mais amargos e chegando aos mais alcoólicos, cada um tem o seu devido momento para saborear. Claro que cada escola tem suas particularidades e maior reconhecimento por certos estilos (futuramente passaremos por cada um deles), mas prove uma Witbier belga, uma Pale Ale inglesa, ou uma Helles alemã e verá que esse preconceito não faz sentido algum.

“E por que o termo ‘encorpada’ entre aspas?” Porque esse é um termo que geralmente eu não gosto de usar, pois causa muita confusão. Já vi muita gente provar uma cerveja e na hora de expor a sensação dizer “É amarga... Mais encorpada.” Veja, o termo ‘encorpada’ vem de corpo, e o corpo da cerveja tem a ver com a densidade da mesma, da textura. A densidade da cerveja é definida, geralmente, pelo residual de açúcar não fermentado na mesma, ou seja, a cerveja mais ‘encorpada’ geralmente é mais doce. E isso, acreditem, confunde muita gente.

Você sabia que a cerveja escura não é necessariamente mais forte ou mais amarga?

Esse é outro preconceito sem sentido algum. A cerveja escura usa malte torrado ou algum outro adjunto, como candi-sugar, que conferirá a pigmentação mais escura. Uma cerveja forte, ou seja, mais alcoólica se dará pela maior quantidade de açúcar fermentado e transformado em álcool, independente da coloração desse açúcar.

Além disso, embora o tostado do malte remeta a uma leve sensação de amargor, o que realmente irá definir uma cerveja como amarga é a quantidade de Ácidos-alfas originários do lúpulo, nada tendo que ver com a coloração do malte ou dos adjuntos.

Você sabia que a fonte da água não é determinante para a qualidade da cerveja?

Esse é mais um conceito antigo, quando a cervejaria deveria estar próxima a uma boa fonte de água para a produção, inclusive, os diferentes estilos de cerveja tem muito que ver com as características da água de cada região. No entanto, hoje em dia, a tecnologia permite que se trate a água e a deixe exatamente como deseja, em qualquer lugar do mundo, mas exigirá um investimento um pouco mais alto. Assim, ter uma boa fonte de água não é determinante para fabricação da cerveja, mas é mais barato.

Você sabia que a cerveja pode harmonizar tão bem (ou melhor) com comida quanto o vinho?

Ano passado, o comentarista de vinhos da rede CBN de São Paulo, Jorge Lucki, disse em seu programa que “Cerveja não combina com nada, é uma comida de boteco... O espumante é seu substituto natural.” A essa frase, só posso dizer: Quem muito fala e pouco entende, por ruim se vende.

A cerveja, tem quatro ingredientes básicos que podem interferir no seu sabor: água, malte, lúpulo e levedura, além das infinitas possibilidades de adjuntos (aveia, casca de laranja, semente de coentro, etc). Isso dá à cerveja uma pluralidade enorme de sabores que podem remeter a pão, caramelo, café, chocolate, ervas, cítricos, florais, frutados em geral, condimentados, ácidos, etc etc etc. Dentro dos 130 estilos de cerveja, há sempre alguns que combinam com o seu prato. Falaremos muito sobre esse tema no futuro.

Você sabia que as cervejas mais populares encontradas nas gôndolas dos supermercados não são Pilsen?

Não são mesmo. Mas isso será assunto para o próximo post..........

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