Seguindo nossa sequencia de posts
sobre os ingredientes da cerveja, no último falamos sobre o Malte,
e hoje falaremos sobre a Levedura e a Água:
Levedura Cervejeira (fermento):
A popular levedura, ou fermento,
utilizado na produção de cerveja tem o nome científico de Saccharomyces Cerevisiae (para Ales) ou Saccharomyces Uvarum (para
Lagers), e é um fungo unicelular.
É a partir da fermentação do açúcar
retirado do malte
(ou outro carboidrato presente no mosto) que obtemos o álcool e o CO2 da
cerveja (na verdade, obtêm-se mais de 3000 subprodutos na fermentação, mas
esses são os principais e mais abundantes). Por isso há quem diga que o mestre
cervejeiro não faz cerveja, e sim mosto, quem faz cerveja é a levedura. Não deixa
de ser verdade, por isso o principal trabalho do Mestre Cervejeiro é
disponibilizar um ambiente perfeito em temperatura e nutrientes para que a
levedura trabalhe com perfeição, a qualidade da fermentação do mosto cervejeiro
está diretamente ligada à qualidade final da cerveja.
Fonte: jackzthebrewer.com |
A Levedura também é responsável
pela definição das 3 família de cerveja que abrigam os mais diversos estilos, são
as Lagers (baixa fermentação), Ales (alta fermentação) e as Lambics (fermentação
espontânea). Existe uma série de mitos
sobre as diferenças entre as famílias, o mais comum é o consumidor associar a
cerveja Lager sendo clara e leve, enquanto a cerveja Ale é escura e encorpada. Não
existe tal relação, e é até ilógica, a diferença básica é a forma como a
fermentação acontece: Nas Lagers a levedura tende a flocular no fundo do mosto
(Baixa fermentação / Bottom fermentation),
enquanto nas Ales a levedura flocula na superfície do mosto (Alta fermentação /
Top Fermentation). Já nas Lambics, não se adiciona a levedura, é deixado o
tanque de mosto exposto às leveduras selvagens que estão no meio ambiente.
Abaixo uma breve descrição de cada uma:
Ales:
Seu nome origina dos antigos pubs/bares/tabernas britânicos,
onde o termo beer nem existia, quem assiste a filmes medievais em inglês pode reparar
no cavalheiro pedindo uma “Ale” quando chega ao bar. A fermentação das Ales
ocorre em temperaturas mais elevadas que as Lagers, entre 17ºC e 25ºC, por
isso, no perfil sensorial de uma Ale a levedura tende ter mais influência que
nas lagers, expondo toques de frutas e especiarias (pimenta, cravo, etc) à cerveja.
Lagers:
Em um primeiro momento da história cervejeira, a levedura
era desconhecida, o cervejeiro preparava o mosto e esperava que, por ação divina,
esse fermentasse. Como as cervejas eram produzidas a temperatura ambiente acima
de 17ºC, as leveduras que ali agiam eram as que chamamos hoje de Ales e
floculavam na superfície do mosto. Até que, durante o século XIX, na Baviera
(hoje sul da Alemanha) foi proibida a fabricação de cerveja durante o verão
para proteger a produção de cevada durante a entressafra, mas o cervejeiro
poderia fabricar a cerveja no inverno e armazená-la até o verão. Para armazenar em local protegido do calor,
evitando que a cerveja estragasse, os mostos da cerveja eram colocados em
cavernas nas montanhas geladas, e a levedura que encontraram ali era uma que
agia a baixas temperaturas e floculavam no fundo do tanque, diferente das antigas.
O nome vem exatamente desse “armazenamento” (E alemão, Lagerung).
Por fermentar em temperaturas mais baixas, entre
7ºC e 13º, as leveduras Lagers tendem a ter menos influência que as Ales o
sabor final da cerveja, mas algumas cepas podem ser surpreendentes. Um caso
muito conhecido é o da Heineken, uma lager com perfil sensorial extremamente
frutado dado ao cuidado que eles tem com a levedura.
Lambic:
Mesmo após o descobrimento das cepas de leveduras e as
formas de inoculação, muitos produtores tradicionais seguem fazendo cerveja a
moda antiga, deixando que leveduras selvagens ajam sobre o mosto cervejeiro. O
nome origina da cidade de Lembeek, na região da Pajjotenland/Bélgica, que
possui uma microflora biológica perfeita para esse tipo de cerveja (não tente
fabricar uma Lambic em São Paulo). Como resultado, temos uma cerveja com perfil
extremamente ácido, ideal para aperitivos.
As Lambics, muito comumente,
levam adição de frutas durante a fermentação. As mais comuns são cereja (Kriek Lambic)
e framboesa (Framboise Lambic).
Estilos de Cerveja com Levedura em destaque:
Alguns estilos tem
levedura em destaque, o mais comum e mais popular no Brasil, sem dúvida, são as
Weizens (Cervejas de Trigo Alemã), sejam
elas Weissbier (clara) Dunkel Weizen (escura) ou Weizenbock (versão mais alcoólica,
clara ou escura). A grande estrela dessas cervejas é a levedura, que trará
aromas e sabores de banana e cravo tão evidentes que não é necessário ter um
paladar apurado para perceber.
No entanto, os reis do trabalho com levedura são os Belgas.
Nenhuma outra escola cervejeira dá tanta importância à ação das leveduras
quanto a belga, gerando cervejas extremamente complexas e saborosas. É possível
notar tons condimentados e frutados em praticamente qualquer estilo belga, sem
contar nos sabores ácidos e terrosos das Lambics.
Então, não se esqueça, toda vez que tomar uma boa cerveja, agradeça ao trabalho incansável que esses micros seres chamados levedura fizeram por você.
Água para produção de Cerveja
Não vou me aprofundar muito nesse ingrediente, apesar dele
compor (geralmente) mais de 90% da cerveja, não vale a pena tratar dela
tecnicamente. Incluí esse ingrediente no mesmo post sobre levedura, pois a
maior influência que a água pode ter no sabor da cerveja é na condição de meio
ambiente da levedura.
Fonte: wallsave.com |
Mas antes, vamos novamente debulhar o mito de que a fonte de
água é essencial na produção de uma boa cerveja. Como dissemos no post sobre
Mitos Cervejeiros, a tecnologia de hoje permite ao cervejeiro trabalhar a
água de forma que ela fique exatamente como ele deseja. A única influência que
uma boa fonte de água terá, será no barateamento do tratamento da água.
Mas por que tratar a água da cerveja?
Primeiro porque há alguns elementos da água que precisamos
remover, pois resultará em sabores e aromas que não desejamos, é o exemplo do
cloro que deve ser totalmente removido da água. Além de qualquer elemento
impuro, claro.
Segundo, para criar o ambiente
perfeito para o trabalho da levedura. A água em si não irá influenciar no perfil
da cerveja, mas o trabalho da levedura vai. Por exemplo, os estilos de cerveja
ingleses foram desenvolvidos com uma água muito dura, rica em Cálcio e Zinco,
as leveduras adoram isso e tendem a trabalhar de forma mais eficaz, assim, consomem
o açúcar em sua totalidade e o resultado é um perfil de malte discreto e uma
textura de corpo mais seca.
Cada cepa de levedura tem um
ambiente ideal de trabalho exclusivo, assim o cervejeiro irá trabalhar tanto o
Ph como os sais presentes na água a fim de alcançar o trabalho perfeito das
leveduras para o final planejado de sua cerveja.