Esse é o terceiro post sobre os
ingredientes básicos da cerveja, antes já falamos do malte,
da levedura
(fermento) e da água. E não por acaso o lúpulo está sendo tratado agora, especificamente
no dia de hoje, e mais a frente explicarei o motivo.
Vamos começar compreendendo o que
é o lúpulo. Muitos lembrarão uma propaganda de cerveja em que três
rapazes brindavam ao lúpulo quando descobriam que esse era uma planta da
família das trepadeiras (mesmo a cerveja que eles brindavam não ter se quer um resquício
de lúpulo no paladar, mas enfim). Nós iremos um pouco mais além do que esse
conceito: O Lúpulo (Homulus Lupulos) é uma trepadeira do tipo liana, que pertencente à
ordem das canabináceas. Isso mesmo, é um parente próximo da conhecida Cannabis Sativa, popular ‘maconha’, mas não
possui os mesmos efeitos psicotrópicos da prima doidona, apesar de possuir
alguns efeitos relaxantes.
O que interessa do lúpulo para o
cervejeiro é a flor fêmea. A Flor de Lúpulo é verde e tem formato de cone, por baixo de suas pétalas encontra-se um pó amarelo brilhante, chamado lupulina e é esse pó que nós queremos dentro da cerveja.
Não há, hoje, plantação de lúpulo
em larga escala no Brasil, esse se adapta melhor a regiões temperadas e
chuvosas. As principais espécies de lúpulo tem sua origem em países como
Alemanha, República Tcheca, Bélgica, Inglaterra e EUA, mas podem ser encontradas
em outros países, como Japão, Nova Zelândia e Argentina.
O Lúpulo e o Amargor
A função principal do lúpulo é
trazer o amargor à cerveja, e é aqui que todo mundo vira a cara para ele. Amargor,
por si só, é uma palavra de cunho negativo: ninguém quer a presença de uma
pessoa amarga, ou escutar uma verdade amarga. Mas o amargor é essencial à
cerveja para equilibrar o dulçor do malte, sem ele, as cervejas seriam extremamente
doces, pujantes e enjoativas.
Antigamente, esse equilíbrio entre
dulçor e amargor na cerveja era dado por diversas outras ervas e condimentos
(como tomilho, alecrim, anis, gengibre, cravo, etc.) que provavelmente não faziam
um par tão perfeito quanto o lúpulo. Foi a monja Beneditina Hildegard Von Bingen (1098-1179) quem
primeiro registrou o uso de lúpulo na cerveja, mas sua intenção não era
exatamente o amargor, mas sim utilizar as reconhecidas propriedades
conservantes do lúpulo para que a cerveja não estragasse durante os meses
quentes de verão. Apesar disso, a inclusão definitiva do lúpulo como
ingrediente fundamental da cerveja foi lenta e progressiva, sendo sacramentada em
toda Europa apenas por volta do século XVI.
O Lúpulo no Aroma e no Sabor
A substância dentro da lupulina
que trará amargor na cerveja são os Ácidos Alfas. Assim, calculando a quantidade
de Ácido Alfa dentro das cervejas é possível determinar o nível de amargor da
mesma, essa escala é dada em unidades de IBUs (International Bitterness Units – Unidades Internacional de Amargor)
e pode estar presente no rótulo da
cerveja a fim de orientar o consumidor. Uma cerveja comercial, quase sem
amargor nenhum, tem cerca de 5 IBUs, enquanto uma cerveja considerada amarga
possuirá a partir de 40 IBUs.
No entanto, há outras substâncias
dentro do lúpulo que nos interessa na cerveja, são ácidos e óleos que darão aroma
e sabor da planta na cerveja, não necessariamente amargor. Esses aromas e
sabores variam para cada espécie de lúpulo e, muitas vezes, a origem de uma
cerveja tem total personalidade com seus lúpulos locais. Por exemplo, os
lúpulos alemães ou tchecos tendem a ser herbais e terrosos; já os ingleses,
florais e frutados. Mas nenhuma escola se destaca tanto pelo lúpulo quanto a
Norte Americana, com inconfundíveis elementos cítricos na cerveja.
O Lúpulo e as IPAs (Indian Pale Ales)
Quando falamos em lúpulo, o
primeiro estilo cervejeiro que nos vem à cabeça são as IPAs ou Indian Pale Ales (Ales
Claras Indianas). Que, apesar do nome, tem sua origem na Inglaterra com uma
história bem interessante:
No final do século XVIII e começo
do Século XIX a colonização Britânica na Índia já estava bem estabelecida e os
colonos precisavam de cerveja. No entanto, as conquistas Napoleônicas do
período impossibilitavam o transporte pelo continente. Já pelo Canal da Mancha
as mesmas não resistiam às longas e calorentas viagens, azedando. Além disso,
devido ao calor na Índia, era impossível fabricar cerveja ali.
A solução foi dada pelo Inglês
George Hodgson: Ele produziu uma Pale Ale com mais álcool e lúpulo, notórios
conservantes naturais, deixando fermentar por muitos meses até que se
esgotassem todas as reservas de açúcar, dificultando com que qualquer
micro-organismo sobrevivesse na cerveja, além disso, a cada barril de cerveja
pronta adicionou-se uma dose extra de lúpulo como conservante. O resultado foi
uma cerveja com cerca de 7% de álcool, extremamente seca e amarga. A viagem à
Índia foi completada com sucesso pelo Canal da Mancha.
Dentro da Inglaterra, poucas
pessoas conheciam a cerveja que navegava até a Índia, até que em 1827 um navio
naufragou próximo à costa da Irlanda e cerca de 300 barris de “Indian Ale”
foram resgatados e leiloados em Liverpool. Em pouco tempo toda a Inglaterra
adorava e clamava pela Indian Pale Ale
(IPA), até hoje um dos estilos mais apreciados (se não o mais) e mais
copiados (se não o mais) dos amantes e fabricantes da boa cerveja.
A IPA virou uma febre do movimento cervejeiro artesanal,
principalmente nos EUA, tanto que criaram um dia para celebrar a esse estilo de
cerveja e cultuar o Lúpulo. E esse dia é.... HOJE!!! 1º de agosto é o dia oficial do Amargor, dos Lupomaníacos (grupo o qual me incluo com grande prazer), dia
oficial da IPA.
E não pensem que a data é
comemorada apenas por gringos, há uma anual e tradicional festa cervejeira em Ribeirão
Preto / SP, chamada IPA
Day Brasil, onde todos os produtores brasileiros desse estilo, e suas
vertentes, são convidados a oferecer seus produtos aos participantes. Esse ano
a festa acontece sábado, dia 03 de agosto, e contará com 22 produtos
diferentes. Como não podia ser diferente, o Bê-á-bá da Cerveja
estará presente.
Atualizado em 28/08/2014: Uma nova versão sobre a história da IPA foi apresentada pelo Blog nesse post.
Atualizado em 28/08/2014: Uma nova versão sobre a história da IPA foi apresentada pelo Blog nesse post.
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